domingo, 11 de abril de 2010

A Reforma

Depois da feliz compra do meu Dodge Charger R/T, comecei a pensar na reforma. O carro estava muito bom, a reforma não era algo que precisava ser imediata, mas eu sempre fui chato com carros e não queria ficar rodando com um carro zuado. Como o carro era “novo” pra mim, ainda tinha problemas que precisavam ser descobertos, no primeiro final de semana quando fui completar o tanque pela primeira vez, então veio à primeira surpresa: - Gasolina vazando. Acho que o carro não andava de tanque cheio com os antigos donos. A borracha de vedação estava ressecada e destruída e também vazava na emenda do tanque. A borracha foi fácil de resolver é igual a do Voyage antigo, já a trinca foi uma novela, tirei o tanque, lavei, deixei no telhado por dois dias, lavei, usei coca-cola, lavei novamente e ficou mais dois dias no telhado e por fim, taquei fogo dentro na boca e dentro do tanque. Foi feita a solda, nada explodiu e um dos problemas estava resolvido. Enchi de água e nada vazou, coloquei no lugar e completei o tanque, tudo certo.


Fui mexendo no carro aos poucos e do meu jeito, troquei a coifa da marcha por uma de couro, já que estava com uma que não sei descrever o que era. Lavei e encerei o carro várias vezes para deixá-lo com mais brilho, apesar da pintura queimada, retirei e pintei a grade dianteira, limpei os faróis e os cromados, pois na pintura que fizeram anteriormente, deixaram poeira de tinta preta em quase tudo, tirando o brilho das peças, pintei a frente de preto novamente. Tinha também os podres que estavam por baixo do friso das rabetas, o vinil estava levemente rasgado nas pontas e pintei as partes amarelas de vermelho e colei o vinil no lugar, tapei o buraco do painel com um som novo. Essas pequenas mudanças melhoraram e muito a aparência do carro, os pobres nem apareciam tanto.

Pronto, dava para rodar com o carro sem ficar muito incomodado, afinal de contas a reforma tinha que esperar eu terminar de pagar os meus pais e juntar a grana para reformá-lo. Coloquei pneus novos 195/70/R15 na dianteira e 275/60/R15 Toyo Proxes na traseira o carro ficou show. Foi a vários encontro de carros antigos com ele. Fiz até um bico no cinema capixaba, eu era o piloto de fuga do bandido.(hahahaha)


Comecei a curtir o carro. Não foi difícil me acostumar com as dimensões do carro nem com o desempenho, o complicado mesmo foi aprender a pará-lo. Era meio complicado parar o Dodge, com mais de 1500Kg, da mesma forma que o Kadett, que tinha pouco mais de 1000kg. Uma vez indo à pista de aeromodelismo com ele, no meio do caminho começou a chover, foi a primeira chuva que peguei com ele, e eu senti um gota no meu pé, logo em seguida veio outra, pronto a segunda surpresa estava aí: - Infiltração pelo pára-brisa. Comecei a prestar atenção nessa goteira, eu estava numa reta à aproximadamente 70 km/h e quando percebi o sinal a minha frente estava fechado, no susto pisei no freio e as rodas travaram, mas o carro nem diminuiu a velocidade, do jeito que estava continuou lixando. Por sorte o sinal abriu na hora certa e por ser muito cedo não tinha trânsito nenhum, - Ufa. Fiquei com aquilo na cabeça. Na semana seguinte ao sair à noite, numa reta, pista seca, caminhão lerdo na esquerda, reduzi a marcha, sabuguei o pé e joguei para direita... Pronto... Dei de cara com o carro quebrado, piso no freio e acontece a mesma coisa, as rodas travam e o carro continua, mas pelo menos diminui um pouco a velocidade permitindo que eu voltasse para trás do caminhão.

Depois de um tempo aprendi a parar o carro com a ajuda do motor, realmente a redução de marcha ajuda muito, fiquei ‘treinado’ até me acostumar com a idéia, já que não precisava disso no Kadett. Usado o motor o carro ancorava, não importava a velocidade, bastava fazer a coisa direito. Me sentia bem mais seguro para andar no carro agora. Apesar do problema inicial, no tanque, o carro NUNCA me deixou na mão, como todo falavam antes de de comprá-lo

Outro detalhe era a tração traseira, que delícia, mas ao mesmo tempo perigosa, no primeiro teste arranquei forte, cantando pneus, dava impressão que a traseira queria passar a dianteira, um a coisa impressionante, isso em uma reta, só que não é a mesma coisa fazendo uma leve curva, pois é, o carro roda fácil... Acho que só eu não sabia disso. Ao sair forte de um posto de gasolina, numa rua tranqüila, eu vi os dois lados da rua e fiquei parado de frente para um muro... Percebi praticando que as coisas devem acontecer de forma mais delicada e consciente. Fui aprendendo dia após dia a controlar o carro, me acostumando com a potência e comportamentos, o primeiro burnout foi IRADO, o cheiro de pneu queimado é igual a perfume.


Enfim, já estava acostumado a andar com o carro, isso o deixou ainda mais atraente pra mim. Quando finalmente terminei de pagar o que devia aos meus pais e já tinha a grana para reforma, encontrei um camarada que trabalhava com funilaria e pintura e perguntei se ele restauraria um Dodge. Ele me pediu para ver o carro, e depois de vê-lo ele disse que nunca mexeu em um carro desses, mas que teria disposição de fazer. Eu tinha passado um bom tempo observando o serviço dele antes de fazer o primeiro contato e vi que ele era caprichoso. O orçamento de mão de obra foi estipulado em 2 mil mais material, achei o preço justo.

Nunca tinha visto um carro sendo restaurado nem mesmo fazia idéia de como seria isso, mesmo assim marquei a reforma para começar junto com as minhas férias, pois queria acompanhar e participar no processo de restauração e no dia 05/11/2003 comecei a desmontar o carro em casa, eu mesmo desmontei 80% do que era necessário. Descobri que um ponto de podre que aparece pelo lado de fora, estará muito pior pelo lado de dentro, e mesmo que não aparente ter podre, estará ao retirar a peça.

Ao retirar os frisos, pude perceber que as coisas estavam ruins, as rabetas tinham buracos enormes, na base do vidro traseiro também. Ao retirar o retrovisor externo, descobri que ele só estava preso por causa de uma chapa que segurava ele por dentro, sem falar que a chapa estava completamente enferrujada. Fiquei apavorado com a quantidade de podres que apareciam. Mas se for analisar com calma até que não estava muito ruim, já vi coisas bem piores atualmente sendo restaurado.

Graças a Deus, por baixo do vinil o carro estava perfeito, a base do pára-brisa estava boa, só os grampos dos frisos que estavam podres. Fui desmontando e catalogando cada parafuso para saber quem é quem na hora de montar. Retirei os frisos, vidros, pára-choques, maçanetas, bancos, acabamentos, vinil, etc. Tudo foi devidamente catalogado e guardado com muito carinho. Coloquei rodas e pneus velhos, já que não queria correr o risco de pintar ou estragar meus Proxes.


No dia 10/11/203 levei o carro, rodando, até o funileiro começou a reforma, não é uma coisa muito agradável de se ver, e aos poucos o carro começava a perder a cor. É uma experiência dolorida, pra quem nunca viu de perto, mas vale a pena. Retirando a tinta da rabeta, deu pra ver a dimensão do estrago, existia uma solda feita na caixa de ar que não tinha explicação de porque tanta emenda, sem falar que por dentro não tinha mais a outra parte da caixa de ar.
Claro que massa e tinta escondem tudo, não dava pra ver essas coisas antes. Depois do carro tudo removida, pude perceber que não estava tão mal, foi só o primeiro impacto que assustou. A rabeta foi retirada e os podres recortados, a base do vidro traseiro foi refeita, e o carro começou a ser refeito. Uma das questões durante a reforma era decidir se deixava ele na cor vermelha ou se voltava a cor original, preferi deixar o carro do jeito que ele nasceu e pintei de amarelo. Quando ele ganhou a primeira base de prime já deu pra ver um pouco do resultado da reforma. Eu pensava que as rabetas nunca mais seriam as mesmas, mas ficaram perfeitas, e quando vi o carro com a primeira mão de tinta, quase chorei, estava lindo.




A reforma (lanternagem e pintura) terminou em 3 meses e com o carro já em casa, começou o processo de montagem. Como eu desmontei, eu fiz questão de montar, afinal de contas, ninguém teria o mesmo carinho e paciência que eu tive.

Troquei praticamente todos os parafusos comuns por parafusos inox os maiores que ficariam visíveis, eu poli para ficar brilhando, todos os frisos foram preenchidos com silicone, desta forma não acumularia mais água, a principal causadora de ferrugem e cromei pequenas peças de acabamento. Recuperei e pintei o painel, coloquei manta térmica e carpete novo, aproveitei que os vidros estavam fora e coloque insulfim, etc. A montagem do carro demorou mais 3 meses, pois eu chegava do serviço às 19h e ficava montando o carro até às 23h, era muito cansativo e como tinha muita peça pequena para montar, parecia que o serviço não andava, isso até desanimava às vezes.
Depois de pintar e montar as lanternas traseiras no lugar, o carro começou a ganhar vida, isso foi uma injeção de animo, coloquei rapidamente o pára-choque e o friso da caixa de rodas, coloquei o carro pra fora e fiquei namorando, afinal depois de tanto tempo vendo o carro desmontado, pude ter a sensação que estava na reta final e que o carro finalmente ficaria pronto. Depois com a frente montada, faltava colocar o vinil novo e ao colocá-lo, o carro estava praticamente pronto, faltava somente pintar as faixas laterais, que seria feita mais tarde, depois que a tinta secasse melhor. Todo final de semana tinha banho de sol matinal. A ajuda do meu pai foi fundamental na montagem do carro, afinal de contas, não dava pra colocar os vidros e frisos sozinho, e sempre precisava de uma segunda opinião.


Carro 100% montado e sem faixas, não resisti e sai no final de semana à noite para matar a saudade. Nossa, chamei a atenção de muita gente, Dodge “novo” rodando na rua não era muito comum. No postinho juntou gente em volta do carro, parecia até que era uma celebridade. Ao sair o posto fui parado numa blitz, mas já na abordagem o policial disse que só me parou porque queria ver o carro, aliás isso é comum de acontecer.


Um mês depois de montado, foram pintadas as faixas e meu Dodge Charger R/T 1975 estava finalmente completo e lindo. Até participei de um programa de TV.


Agradeço aos meus pais pelo apoio, apesar de no começo serem contra a compra de um carro, supostamente, velho. Hoje eles curtem o carro, não com a mesma intensidade que eu, mas curtem do jeito deles. Meu pai está sempre me ajudando com alguma coisa, eu diria que ele foi uma peça fundamental na restauração deste carro. Minha mãe vive me pedindo para dar uma voltinha nele, mas eu não estou louco ainda. Diversão até na hora de ir para à garagem

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns pelo carro, ficou mto lindo, ... ainda estou procurando pelo meu mas está difícil... se souber de algum...

    wag83@ymail.com

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  3. Bacana a história! Estou numa novela sem fim com meu dart coupé 73. Quando desmontei, a tinta escondia muita massa e remendos mal feitos. Agora é acabar a funilaria e pintar.

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  4. muito boa a história. ficou de cinema esse dodge, eu tambem to pensando em reforma uma caranga tbm, só que a minha é uma parati 86. ta na familia faz tempo já, só q ta se deteriorando.
    me add no msn ai pra trocarmos umas ideias.

    leomaeski@hotmail.com
    valeu
    abraços e parabens pelo possante.

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  5. Fiquei simplesmente MARAVILHADO com seu post... Tenho um Kadett 1995 que amo, mas que está bem caído, e eu estava em dúvida se valia ou não partir pra reformar... mas só de ver o seu blog, me enchi de coragem...

    Ps: Sou pm no RJ... se um dia eu vir seu carro, com certeza vou pará-lo pra ver...!!

    Forte abraço...!!!

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